A ex-prefeita de Natal, Micarla de Sousa,
chorou em depoimento da Operação Assepsia, que investiga um esquema de fraudes
em licitações e desvio de recursos públicos na gestão da saúde em Natal durante
2012. Outros oito réus foram ouvidos pela Justiça Federal nesta segunda-feira
(8).
Micarla chegou por volta das 20h e evitou
falar com a imprensa. Na sala de audiência, ela entrou acompanhada da mãe, do
namorado e do advogado de defesa. A ex-prefeita iniciou o depoimento falando
dos problemas de saúde e de três acidentes vasculares que comprometeram a sua
memória. Mesmo assim, ela explicou estar com documentos, reportagens de jornais
da época e com disposição para ajudar a esclarecer as denúncias investigadas na
Operação Assepsia.
Micarla de Sousa negou qualquer ato de
corrupção cometido por ela e disse que não tinha conhecimento de
irregularidades nos processos de licitação e gestão das UPAs e das AMEs. Ela
destacou também que a contratação de organizações sociais para administrar
esses serviços de saúde foi considerada legal pelo Tribunal de Justiça do
estado. Micarla ainda informou que confiava nos secretários e assessores, mas
depois do escândalo, se sentiu traída pelos auxiliares.
Sobre as declarações da testemunha Regina
Mota, ex-controladora do município, que disse ter alertado a então prefeita
sobre a corrupção de alguns secretários, Micarla disse que estranhou a atitude
de Regina e comentou que a ex-controladora até continuou no mesmo órgão, no
cargo de consultora.
Na parte final do depoimento, questionada se
depois que saiu da prefeitura Micarla teve aumento no padrão de vida, ela
chorou e explicou que enfrentou uma diminuição no patrimônio da família.
"Fui eu que, lá quando meu pai tava morrendo, disse que ninguém iria tocar
na TV, ninguém iria tocar no patrimônio da minha família. E depois que eu saí
da prefeitura, foi esse patrimônio que teve que ser vendido. Se eu fosse essa
'bandida' que foi colocado, por que minha família precisaria fazer isso? Não
existe possibilidade. Eu moro na mesma casa, eu tenho um carro que foi minha
mãe que me deu. Meus filhos me perguntam 'mãe, por que eles te chamam de ladra
se a gente passou tudo que a gente passou?' É isso que acontece", disse Micarla.
Ainda nesta segunda foram ouvidos outros oito
réus no processo. No início da tarde, a primeira a depor foi Anna Karinna
Castro. Ela e o marido, o ex-procurador do município Alexandre Magno, falaram
em sequência. A jornalista negou que tivesse simulado a prestação de serviços
ao município para receber pagamento indevido. "Eu não simulei nenhuma
prestação de serviço. Eu fui contratada como jornalista para prestar o serviço
de assessoria de imprensa", disse. No depoimento, Alexandre Magno negou
que tenha influenciado a escolha para favorecer a organização social Marca em
uma licitação. Ele também disse que não recebeu propina pelo contrato.
Outro depoimento foi o do procurador Bruno
Macedo: ele disse que não tinha conhecimento das irregularidades. Também
respondeu aos questionamentos o ex-secretário de Natal Tiago Trindade, como os
demais réus, ele também negou envolvimento no escândalo. A ex-chefe de gabinete
da Secretaria de Saúde de Natal, Ane Azevedo, disse que não sabia da existência
do esquema na pasta. O ex-marido de Micarla de Sousa, o radialista Miguel
Weber, disse que não fez parte de nenhuma quadrilha e que não saiu beneficiado
pelo suposto desvio de recursos.
Durante a madrugada, dois técnicos da
Secretaria de Saúde de Natal prestaram depoimento. Após essa fase final de
depoimentos, o processo segue para as alegações finais do Ministério Público
Federal e das defesas. Depois, o juiz Walter Nunes vai anunciar a sentença.
G1
Nenhum comentário:
Postar um comentário